Nesta semana, a Câmara Municipal de Marabá abriu espaço para um dos movimentos mais controversos do ano: a aprovação de uma Moção de Aplausos à primeira-dama Lanúzia Lobo, esposa de Toni Cunha. A justificativa oficial é que ela teria sido a idealizadora e realizadora do programa “Prefeitura Perto de Você”. Mas a narrativa muda de tom quando se observa o que está por trás dessa homenagem.
A proposta veio do vereador Ubirajara Sompré, com assinatura do presidente da Casa, Ilker Moraes — ambos do MDB. Lanúzia não ocupa nenhuma função pública, não compõe a estrutura do governo municipal e não possui atribuições administrativas oficiais. Ainda assim, foi reconhecida pela Câmara como se fosse peça central de uma política pública da Prefeitura. O gesto levanta uma pergunta que ecoou pelos corredores políticos: por que homenagear quem não exerce cargo público?
No centro do impasse está o “Prefeitura Perto de Você”, um programa que ocorre de maneira esporádica, sem calendário definido e com resultados limitados diante da realidade da população. Não há periodicidade, não há estrutura permanente, e as ações prestadas não compensam os gargalos dos serviços essenciais: filas nos postos de saúde que começam antes do amanhecer, dificuldade constante para emissão de documentos básicos e carência de iniciativas de cidadania que alcancem quem mais precisa. Este ano, o programa aconteceu no máximo três vezes. Ainda assim, foi tratado como marco administrativo de grande impacto.
A movimentação da primeira-dama sobre o programa já havia despertado preocupação do Ministério Público, que chegou a emitir recomendação para evitar o uso de ações do poder público como plataforma de promoção pessoal. O alerta mirou diretamente Lanúzia, cuja presença em eventos da Prefeitura tem sido crescente, sempre sob os holofotes. Mesmo com negativas oficiais, o nome dela circula como possível candidata a deputada estadual em 2026 — e cada aparição reforça essa leitura.
A moção aprovada revela mais do que um gesto político: mostra o quanto o Legislativo local se colocou à disposição para fortalecer a projeção pública da primeira-dama. Em vez de fiscalizar, a Câmara parece operar como extensão da estratégia política do prefeito Toni Cunha, num movimento que envolve composições internas, troca de apoios e acordos que aproximam o parlamento da estrutura municipal. Para quem acompanha a rotina da política marabaense, o episódio expõe uma engrenagem que se movimenta de forma coordenada, cada vez mais distante do interesse coletivo e cada vez mais próxima de um projeto de poder que, ao que tudo indica, tem Lanúzia Lobo como peça estratégica.