A 3ª edição da chamada Alepa Itinerante foi realizada nesta terça-feira (7) em Marabá, mas o evento, apresentado como um espaço de “diálogo e aproximação com a sociedade”, acabou se transformando em palco de duras críticas à própria Assembleia Legislativa do Pará (Alepa). Moradores e lideranças locais usaram a tribuna para questionar decisões recentes do Legislativo estadual que, segundo eles, têm prejudicado diretamente a população paraense — entre elas, a aprovação da lei que permite a privatização da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa).

O plenário da Câmara Municipal, onde ocorreram as sessões, recebeu deputados estaduais, prefeitos, vereadores e representantes de movimentos sociais. Apesar do tom oficial de “escuta popular”, as manifestações deixaram claro o descontentamento com a distância entre o discurso e a prática dos parlamentares. Diversos participantes afirmaram que a Alepa tem atuado de forma submissa ao Executivo estadual, aprovando projetos de grande impacto social sem consulta pública efetiva.
Entre os questionamentos mais recorrentes esteve a entrega dos serviços de água e saneamento à iniciativa privada. Moradores denunciaram que a privatização da Cosanpa representa a retirada de um direito essencial e a transformação de um serviço público em mercadoria. A população também cobrou transparência sobre outras leis que, segundo os oradores, foram aprovadas sem debate e com prejuízos diretos às comunidades do interior.
Mesmo com as críticas, os discursos oficiais seguiram o tom protocolar. O presidente da Alepa, deputado Chicão (MDB), afirmou que o projeto itinerante busca “levar o Parlamento até as pessoas” e “democratizar o poder”. No entanto, parte do público reagiu com ironia, lembrando que as principais decisões da Casa continuam sendo tomadas em Belém, a portas fechadas, sem participação popular.
Durante a audiência, dezenas de moradores se inscreveram para falar, e a maioria utilizou o espaço para denunciar o distanciamento do Legislativo em relação às demandas reais da população. Para os participantes, o evento serviu menos como instrumento de escuta e mais como tentativa de autopromoção política em ano pré-eleitoral. O contraste entre a retórica de diálogo e a prática de aprovação de leis impopulares marcou o tom do encontro e expôs o crescente desgaste da imagem da Alepa no interior do Estado.