DNIT volta a adiar conclusão de ponte entre São Geraldo do Araguaia e Xambioá

23 jul

Iniciada ainda em 2017, durante o governo Michel Temer (MDB), a construção da ponte sobre o rio Araguaia, que ligará os estados do Pará e Tocantins pela BR-153, segue sem previsão exata para ser entregue. O projeto, que já consumiu mais de R$ 200 milhões, chegou a 95% de conclusão física, mas permanece inutilizável por conta de entraves fundiários e operacionais.

O novo impasse apontado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) diz respeito às desapropriações pendentes no lado paraense. Segundo o órgão, audiências de conciliação com os moradores afetados estão agendadas para os dias 6 e 7 de agosto, em São Geraldo do Araguaia, município localizado no sudeste do Pará. No lado tocantinense, as desapropriações já foram concluídas no primeiro semestre de 2025.

Apesar disso, moradores e lideranças locais questionam a justificativa. A principal crítica gira em torno do fato de que a obra permanece paralisada mesmo nas áreas já liberadas, como os acessos do lado tocantinense e o asfaltamento da própria estrutura da ponte — que, apesar de pronta, ainda não recebeu a camada de pavimentação definitiva.

A ponte possui 1.724 metros de extensão e integra um complexo viário estimado em R$ 232,8 milhões, considerando o valor inicial de R$ 132 milhões apenas para a ponte e os R$ 28,6 milhões dos acessos, cuja construção está muito aquém do esperado. Atualmente, cerca de 10 operários atuam no canteiro, visivelmente esvaziado, em Xambioá (TO), trabalhando em etapas como drenagem e assentamento de manilhas.

Ao todo, os acessos somam 2.010 metros, sendo 310 metros no Pará e 1.700 no Tocantins. O projeto prevê ainda calçadas e vias marginais. No entanto, o ritmo lento da obra e a ausência de transparência quanto ao novo cronograma preocupam moradores e caminhoneiros que utilizam a rota como ligação entre regiões centrais do país e o norte do estado do Pará.

Enquanto isso, a travessia sobre o rio Araguaia continua sendo feita por balsas da empresa Pipes. Contudo, até mesmo essa solução paliativa sofreu um revés recente. Na segunda-feira (14/7), uma balsa colidiu com um dos pilares da ponte, provocando o bloqueio temporário do serviço por determinação da Marinha do Brasil.

De acordo com a empresa responsável, a colisão ocorreu após uma falha mecânica no rebocador, agravada pelos ventos fortes. A embarcação transportava caminhões e ônibus e, ao ser empurrada pela correnteza, atingiu a estrutura da ponte. Após inspeções preliminares, foi constatado que não houve danos ao pilar.

A Capitania Fluvial do Araguaia-Tocantins abriu um inquérito administrativo para apurar as circunstâncias do acidente e determinou que a embarcação só retorne à operação após a apresentação de um Certificado de Segurança da Navegação (CSN) válido.

A paralisação da balsa gerou longas filas e prejuízos logísticos, escancarando a dependência da travessia fluvial enquanto a ponte não é entregue. A estiagem que atinge a região e reduz a navegabilidade do rio torna a situação ainda mais crítica, reforçando a necessidade da conclusão da obra.

Mesmo diante do cenário de abandono visível, o DNIT afirma estar “empenhado” em entregar a ponte no segundo semestre de 2025. No entanto, a promessa depende do êxito nas audiências judiciais e de uma retomada efetiva do ritmo de obras.

Enquanto isso, a população segue à mercê de uma estrutura quase pronta, mas ainda sem utilidade — símbolo de um Brasil onde pontes existem no concreto, mas não na prática.

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