Um fato no mínimo contraditório tem chamado a atenção nos bastidores políticos de Marabá nestes primeiros 100 dias de governo. Autoentitulado “o homem mais honesto de Marabá”, o prefeito Delegado Toni Cunha (PL) surpreendeu ao nomear para sua assessoria direta uma figura polêmica do meio policial: o ex-conselheiro tutelar Jader Santos, afastado do cargo após denúncias de roubo e receptação de joias.

Conhecido nos meios da Polícia Civil, Jader agora atua como uma espécie de articulador político informal do gabinete do prefeito, especialmente junto a entidades sociais e conselhos municipais – setores onde a gestão enfrenta resistência e baixa aceitação. Sem ocupar oficialmente nenhuma secretaria, como chegou a pleitear a de Cultura, o ex-conselheiro tem usado sua proximidade com o gabinete para pressionar lideranças de organizações da sociedade civil.
Segundo relatos de dirigentes de entidades sociais, Jader tem feito abordagens intimidatórias, exigindo alinhamento político com a atual gestão. A ameaça recorrente é clara: caso a entidade mantenha postura crítica ou independente, poderá enfrentar dificuldades no recebimento de emendas parlamentares impositivas, mesmo com o pagamento sendo obrigação legal do Executivo municipal até o fim do exercício orçamentário – sob pena de configurar improbidade administrativa.
A escolha de Jader, em detrimento de nomes com histórico ilibado e reconhecimento no trabalho social, expõe um contrassenso na narrativa do atual prefeito, que se elegeu prometendo moralidade, transparência e respeito à lei. Mais do que isso, acende um alerta para o uso político de estruturas públicas com fins de intimidação, numa tentativa de silenciar vozes da sociedade civil que desempenham papel fiscalizador e propositivo no município.
Enquanto o gabinete do prefeito se mantém em silêncio sobre a atuação de Jader e a ausência de nomeação oficial para qualquer secretaria, cresce o desconforto nos bastidores e a indignação entre representantes das entidades sociais. Em um município que clama por participação popular e respeito institucional, a postura da nova gestão pode estar trilhando o caminho oposto.