Enquanto faltam remédios, comissionados da Saúde em Marabá recebem supersalários com plantões irregulares

6 nov

No Hospital Municipal e no Hospital Materno Infantil de Marabá, faltam gaze, esparadrapo e até medicamentos básicos para curativos. Mas o que não falta é dinheiro público para bancar plantões pagos a servidores comissionados — que, por lei, não deveriam receber por esse tipo de serviço. Um dos casos mais emblemáticos é o da diretora de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde, Ângela Assunção, que, com salário base de R$ 1.624,26, recebeu no último mês R$ 27.236,17 brutos, quase dezessete vezes mais do que seu vencimento oficial. Assim como ela, outros 89 comissionados lotados na Secretaria de Saúde gozam do mesmo privilégio.

A denúncia, com mais de 150 páginas, foi recebida pelo Portal Curupira Marabá e revela um esquema de pagamentos de plantões a servidores nomeados em cargos de confiança, muitos deles com funções administrativas e sem vínculo direto com unidades hospitalares. O levantamento mostra que diretores, coordenadores e chefes de setor vêm sendo contemplados com valores expressivos sob a justificativa de plantões médicos — um benefício que, por norma, deveria ser exclusivo a profissionais da linha de frente do atendimento.

Entre os nomes citados, estão gestores que possuem clínicas particulares e que, mesmo em regime de dedicação exclusiva, teriam recebido pelos supostos plantões. A prática ocorre enquanto mais de 2.800 servidores efetivos da saúde enfrentam atrasos salariais, defasagem na recomposição e até greves para reivindicar direitos básicos. O Conselho Municipal de Saúde já tomou conhecimento do caso e encaminhou representação formal à Câmara Municipal, cobrando investigação e providências.

Os valores pagos a comissionados contrastam com a realidade das unidades de saúde do município, onde a escassez de insumos compromete o atendimento diário da população. Chama atenção o fato de que a maioria dos beneficiados sequer atua nos hospitais, mas sim na própria Secretaria Municipal de Saúde, em funções administrativas. Em nota, a pasta afirmou que “não recebeu nenhuma denúncia sobre possíveis pagamentos irregulares” e informou que fará uma “análise criteriosa da folha de plantões médicos”. Enquanto isso, cresce o questionamento: por que quem deveria gerir com responsabilidade a saúde pública de Marabá é quem mais se beneficia dela? Reportagem Portal Curupira Marabá