Condenado por matar Flávia Alves recebe pena considerada justa; defesa sai fortalecida de júri a portas fechadas

18 nov

O Tribunal do Júri de Marabá concluiu, na madrugada desta terça-feira (18), o julgamento de William Araújo Sousa, condenado a 17 anos, 10 meses e 16 dias de reclusão, além de 6 meses de detenção, pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e fraude processual envolvendo a morte de Flávia Alves Bezerra. A sentença, lida pela juíza presidente Alessandra Souza Rocha, foi proferida após a votação unânime dos jurados, que reconheceram as qualificadoras apresentadas pelo Ministério Público e rejeitaram a tese formulada pela defesa. Mesmo diante desse cenário, a equipe defensiva avaliou o resultado como positivo num primeiro momento.

A juíza Alessandra Rocha aplicou a pena observando os critérios estabelecidos na lei penal e as circunstâncias judiciais consideradas favoráveis ao réu, o que foi ressaltado pela defesa. Para a advogada Cristina Alves Longo, responsável pela sustentação técnica ao longo de todo o processo, o respeito estrito aos parâmetros legais demonstrou equilíbrio e técnica na análise do caso, apesar da pressão social e da grande repercussão em torno do julgamento. A magistrada também determinou que o regime inicial seja o fechado, e que o período de 1 ano e 7 meses já cumprido seja abatido pela Vara de Execuções Penais.

O conselho de sentença reconheceu o homicídio duplamente qualificado — pela asfixia e pela impossibilidade de defesa da vítima —, além da materialidade e autoria. Por esse crime, William recebeu 16 anos, 7 meses e 17 dias de reclusão. Na sequência, foram fixadas as penas de 1 ano, 2 meses e 6 dias pela ocultação de cadáver e de 6 meses de detenção por fraude processual. Somadas em razão do concurso material, as penas alcançaram o total imposto na sentença. O julgamento ocorreu em sessão reservada, sem transmissão ao vivo, com acesso limitado a familiares, representantes do Ministério Público e advogados. A gravação será disponibilizada ao público nas próximas horas, por determinação da juíza.

Durante o interrogatório, William confessou o crime e relatou que a morte ocorreu após um desentendimento sobre um maço de cigarros. Também reproduziu a técnica de estrangulamento usada contra Flávia, conhecida como mata-leão, ao lado de sua defensora. O laudo do Instituto Médico Legal confirmou que a vítima morreu por asfixia. A defesa buscava o reconhecimento de lesão corporal seguida de morte, tese rejeitada pelo júri. Ainda assim, Cristina Longo destacou que a postura técnica adotada pela juíza foi fundamental para assegurar que o réu não fosse submetido a uma sentença desproporcional, mesmo diante do cenário adverso.

A acusação foi conduzida pela promotora Cristine Magella, com o apoio dos advogados assistentes Diego Souza e Arnaldo Ramos. O grupo avaliou que a pena deveria ter sido mais elevada, manifestando intenção de recorrer. Familiares de Flávia também demonstraram insatisfação com o resultado, afirmando que a punição foi branda diante da gravidade do caso. Já a defesa, apesar de igualmente ter anunciado recurso, deixou o plenário avaliando que o julgamento confirmou o respeito às garantias legais do acusado — ponto que Cristina Longo vinha defendendo desde o início do processo.

Em um dos momentos mais sensíveis do julgamento, a advogada aproximou-se da mãe da vítima, Paula Carneiro, durante uma pausa da sessão. No hall do fórum, pediu perdão por atuar na defesa, explicando que exercia seu dever profissional previsto na Constituição e na lei. Paula ouviu a manifestação sem se pronunciar. O momento marcou a postura ética adotada ao longo da atuação da defensora, mesmo em um caso cercado de forte comoção.

Com a sentença publicada, o processo segue agora para a Vara de Execução Penal e poderá avançar às instâncias superiores. Embora a família de Flávia e parte da sociedade de Marabá tenham recebido a pena com indignação, o resultado foi interpretado pela defesa como uma vitória técnica, sobretudo pela condução considerada correta e equilibrada da juíza Alessandra Rocha na fixação da pena. Reportagem Portal Curupira Marabá