O maior bulinador de Tatagiba

14 maio

Na política, há parcerias que nascem por afinidade e outras por conveniência. A de Toni Cunha e João Tatagiba, em Marabá, nunca escondeu de que tipo era. Desde o lançamento da chapa em agosto de 2024, na Câmara Municipal, ficou claro que a escolha de Tatagiba como vice não veio por mérito, lealdade ou preparo, mas por cálculo eleitoral: ele controlava o Podemos, uma das poucas siglas dispostas a compor com Toni e seu PL numa coligação nanica.

O casamento político, frágil desde o início, degringolou de vez no meio da campanha, quando veio à tona um boletim de ocorrência registrado pela ex-mulher de Tatagiba, com acusações graves de violência doméstica. A denúncia caiu como uma bomba no comitê e, nos bastidores, o apelido que pegou veio da boca do próprio Toni Cunha: “João Tapagiba”. O trocadilho infame com a denúncia de agressão virou piada interna, repetida com frequência por assessores e até por secretários mais próximos do prefeito. E colou.

Interlocutores relatam que Tatagiba se queixa da falta de respeito por parte de Toni Cunha, que o teria deixado de escanteio à frente de duas secretarias sem prestígio: a Sicom e a Semtur. A desconfiança é tamanha que, em uma das primeiras viagens de Toni a Brasília como prefeito, o vice — que por lei deveria assumir temporariamente a gestão municipal — foi deliberadamente impedido de tomar qualquer decisão que reforçasse essa posição. A ordem partiu do controlador-geral Wilson Xavier, que recomendou que Tatagiba não assinasse nem mesmo documentos como secretário, para evitar qualquer questionamento legal sobre sua real função no período.

É que Toni Cunha carrega um medo gigantesco: o de ser cassado e ver Tatagiba assumir, ainda que por acidente, a cadeira de prefeito. Para evitar esse “acidente de percurso”, o prefeito trata o vice como figura decorativa, sem acesso, sem comando, sem respeito, alijado do poder municipal. A intenção, se cassado for, é investir no papel de “vítima do sistema” e chamar o impeachment de “golpe”, tal como fizeram os petistas quando da cassação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

A última cena pública desse roteiro tragicômico aconteceu recentemente, na inauguração de uma escola projetada por Tião Miranda, mas entregue pela atual “gestão” (aspas absolutamente necessárias). Enquanto professores, pais e alunos cantavam com emoção o hino de Marabá, Tatagiba apenas abria a boca, balbuciando palavras desconexas, sem saber a letra da canção símbolo da cidade. Em um determinado momento, já não contendo o incômodo pelo deboche dos assessores e do próprio Toni Cunha, Tatagiba soltou um “para, porra” — isso no meio da execução do hino de Marabá, diante de uma plateia formada por centenas de pais, professores e crianças.

Tatagiba, que costuma se vangloriar de sua gestão na Acim, tenta manter uma imagem de gestor competente. Mas nos corredores do poder, a avaliação é outra: o trabalho técnico vinha da equipe; ele apenas assinava os papéis. E agora, como vice-prefeito, nem isso faz — até porque nem deixam.

Se há alguém que se diverte com essa tragicomédia, é Toni Cunha. Gosta de pilheriar, de expor, de deixar claro quem manda e quem obedece. É, sem sombra de dúvidas, o maior bulinador de Tatagiba.

E assim segue a “parceria administrativa”: Toni Cunha governa com mão de ferro e língua afiada, mantendo seu vice sob rédea curta e sem espaço. Tatagiba, por sua vez, segue tentando se equilibrar entre cargos que não controla, ações que não lidera e uma gestão que, para ele, só sobra quando é hora de passar vergonha. Não é cedo para dizer que o empresário atrelou seu legado a uma nota de rodapé na história de Marabá.

A Editoria

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